quinta-feira, 13 de maio de 2010

O cego e a bailarina

E o cego falou para a bailarina:
_Eu só tenho o meu coração pra te oferecer, mais nada.
A bailarina, poeta, sorriu, afinal, muitos já haviam oferecido seu coração.
Não deu certo.
O cego não andava direito, a bailarina deslizava,
O cego não via a beleza das roupas, a bailarina adorava se vestir para ser elogiada,
O cego nem se divertia direito, não divertia o quanto a bailarina fazia.
O cego tinha avisado, ela não escutou direito, pensou ser só mais um coração apaixonado entregue às cegas à sua vida. Mas não foi um coração entregue às cegas, e sim, de um apaixonado, desprovido de tantas outras dádivas, que realmente só tinha aquilo para oferecer para ela.
A bailarina foi em busca de novos corações, de pessoas sorridentes, que tinham muito mais a oferecer a ela do que um pobre coração invisível, de pessoas que poderiam proporcionar aventuras e mais aventuras, que elogiariam, a cada dia, a sua beleza e as suas roupas, de pessoas que tivessem uma visão perfeita, um olhar incandescente e sem inocência.
O cego ficou sozinho, à procura de mais pessoas cegas, que tivessem um coração tão grande quanto o seu, e que merecessem o imensurável escuro da alma belíssima que ele tinha para oferecer.

Lucas H. Figueiredo

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