Está passando o tempo
Estou perdendo o meu
Não dá pra roubar o de ninguém
Por isso dói
Meu campo de visão está esquálido
Meu peito pede um corpo quente
Pede dente
Pede emoção
Estou sendo engolido por minha poesia
Ela come o meu tempo
Não há nenhum santo insensível para me salvar
Já não sei mais escrever palavras com S SS ou Ç
Não lembro a formula de respiração
Os imperadores da historia antiga estão fazendo suruba
Os números só conseguem fazer poses para fotos
O mapa mundi político canta um pop triste
A chuva lá fora dissolve minha sintaxe
Minhas equações químicas, desbalanceadas, me preparam um loló
Acabei de errar uma próclise
A poesia está me engolindo e o meu ponto final não chega nunca.
Esse pontinho de cima não é um ponto final.
Nem esse outro.
Quero mais dentes, línguas e musicas
Getulio Vargas está se suicidando em cima da cama que eu escrevo
Isaac Newton está lambendo o sangue
Números estão rodando
O estreito de Magalhães me levou ao Bósforo
Minhas lágrimas provocam as cheias do Nilo
Minhas poesia me come
Me inferniza
E me faz errar próclises.
L.H.Figueiredo